FPT completa Jubileu de Prata em prol do Truco


Esporte tem o dogma de fazer amizades



Por Eduardo Cedeño Martellotta

O paulista de Boituva Milton George Thame, 72 anos (na foto ao centro), é presidente da Federação Paulista de Truco – FPT, entidade fundada em 14 de novembro de 1987, completando, portanto, 25 anos de história em prol do Esporte Caboclo.
A FPT representa cerca de 10 milhões de truqueiros em todo o Estado de São Paulo, amantes do truco, esse fascinante jogo de baralhos caracterizado pelo grito durante as partidas.
Thame explica que atualmente em 80% do Brasil se joga truco. “De cada dez caipiras, onze são campeões de truco”, costuma dizer.

                             Copa Campo Limpo de Truco, último torneio realizado pela FPT

O truco, segundo ele, tem o dogma de entrelaçar as pessoas em clima de pampeirismo, formando novos amigos. Hoje muitos universitários jogam o truco. “O truco nasceu na palhoça, ganhou o asfalto, entrou na faculdade e virou doutor”, diz Thame. O esporte tem outra vantagem, a de integrar todas as classes sociais. “Ele mistura funileiros, engraxates, advogados e médicos. É uma farra organizada”, conta.
Durante as partidas, que acontecem em dupla ou trio, predomina a cordialidade entre os jogadores. “O truqueiro respeita o outro”.
São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina são os estados onde mais se joga truco, segundo ele. Existem, além da FPT, as outras federações nos respectivos estados. E, em menor quantidade, o truco se espalha ainda pelo interior dos Estados da Bahia e do Rio de Janeiro.


                                     Equipe de árbitros da FPT com Milton George Thame


Paixão pelo truco vem da infância
A paixão de Thame pelo truco surgiu aos seis anos de idade. Ele viajava com o pai, mascate, na garupa de um cavalo, que costumava comercializar tecidos, em forma de permuta. “Voltávamos carregados de peixes, cabras e cabritos amarrados no cavalo. Meu pai cantava para mim, no caminho, e eu dormia nas costas dele. Ao chegar num lugar, ele cumprimentava as pessoas e tomava pinga de alambique. A imagem não sai da minha cabeça. As mulheres preparavam a comida: pedaços de leitoa, em fogão de lenha. Enquanto isso, jogavam truco e eu ficava assistindo. Eles usavam milho para marcar os tentos da partida.  Aí eu ficava fascinado pelo jogo”, lembra ele.
Com o passar do tempo, o pai o ensinou a jogar truco. “Certa vez ele me disse: um dia você vai cuidar do truco”.


O boituvense Thame começou a jogar truco aos 12 anos de idade com o próprio pai que lhe ensinou, apenas com o objetivo de fazer amizades. Por volta de 1959, foi morar em São Paulo, no bairro do Tatuapé, quando começou a frequentar clubes de bocha, malha e truco, onde tinha o costume de marcar o nome e o endereço de todos os amigos. “Parece que eu estava fadado a fundar um dia uma instituição em prol do truco”.  Thame se recorda que, embora fosse um jogo de diversão, em alguns lugares o truco era proibido.
Em 1977, ele participou do 1º Campeonato Estadual de Truco, promovido pela atual Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude. No ano seguinte, sagrou-se campeão. “Isso me deu a força e os instrumentos para fundar a federação”. Naquela época, Thame acumulava as funções de jornalista, policial militar e assessor do então Secretário da Segurança Pública, Erasmo Dias.

Em 1980, fundou a Associação Paulista de Truco (hoje FPT), com repercussão nacional. Milton Thame tinha na época uma página inteira sobre o truco no jornal A Gazeta Esportiva, publicada às quartas-feiras e aos sábados.
Dois anos depois, o saudoso vice-governador Orestes Quércia, muito prestimoso com a cultura nacional, deixou a Secretaria Estadual de Esporte à disposição de Thame para que cuidasse do truco. “Lá eu fiz um trabalho muito grande em prol do truco”.

Jornal do Truco: Sucesso Nacional
Em 1984, Thame resolveu fundar o Jornal do Truco. “Foi um bombardeio. Todos os estados brasileiros recebiam o jornal, principalmente as Prefeituras e Câmaras Municipais”, lembra ele. 
O Jornal do Truco, com circulação mensal, não era só truco, abordava ainda bocha, malha, pesca, moda de viola e turismo. Em razão de problemas de saúde, ele parou a circulação do jornal em 1996. Mas anuncia que o jornal irá voltar em breve. “Haviam falecido dois companheiros meus, o editor Claudio Maiato e Onofre Leite, ambos do Jornal do Brás (em cuja sede também funciona a FPT) e do Jornal do Truco. Fiquei com os dois jornais sozinho, e quando realizei minha segunda cirurgia no coração, não tinha mais condições de tocar os dois veículos”.





O maior público do truco
Desde a sua fundação há 25 anos, a Federação Paulista de Truco promoveu centenas de campeonatos. O maior deles foi o Estadual de Prefeitos e Vereadores, em 1990, no Mart Center da Vila Guilherme. “Participaram 412 prefeitos e 3.700 vereadores de todo o Estado de São Paulo. E também vieram muitas caravanas de truqueiros do interior, totalizando 19.000 pessoas. Foi uma loucura. Jamais alguém vai fazer um campeonato de truco dessa envergadura”. Thame atribui o sucesso a uma promoção bem atrativa, oferecendo cachaça, chopp e churrasco grátis a todos os participantes. Foram três dias de evento. “Foi um pedido do então governador Orestes Quércia para ajudar o Fleury Filho a ser eleito. E foi graças ao truco e à FPT que Fleury conseguiu se eleger governador, fato confirmado depois por Quércia”, ressaltou.
Volkswagen, Copag (empresa fabricante de baralhos), Kaiser e Brahma foram os principais colaboradores da FPT. A Copag até hoje dá suporte à entidade com o fornecimento de baralhos. “Promovemos ainda um campeonato bem interessante para mecânicas e funilarias através da Volkswagen”, lembra Thame.

Regras do jogo
Aprender a jogar truco é fácil e rápido, garante ele, basta assistir a uma partida. Em relação às regras, as cartas obedecem a uma hierarquia de manilhas, valores e símbolos: paus, copas, espadas e ouro. “Se virar um cinco na mesa, ou seja, um tombo, as manilhas são o seis. O seis de paus é o zap, o seis de copas é chamado de sete copas, o seis de espadas é espadilha e o seis de ouro chama-se pica fumo. Depois vêm as cartas de menor valor: os três, os dois, os azes etc”.
O truco em um dia especial, criado em 1986, pelo então deputado Augusto Toscano – o Dia do Truco, comemorado por lei estadual no segundo domingo de julho de cada ano.
Thame salienta que a FPT está rigorosamente em dia perante o fisco municipal, estadual e federal. Realizou a Copa Campo Limpo de Truco em 29 de setembro de 2012. “E estamos trabalhando junto a outras subprefeituras da Capital para promover campeonatos nos bairros, em seus respectivos aniversários. Enquanto aguardamos também a Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação para convidar a FPT a coordenar novamente os Jogos da Cidade, a Taça Cidade de São Paulo e a Virada Esportiva”, explica.
A Federação Paulista de Truco foi fundada na rua Piratininga, 841, e hoje está sediada na rua Rio Bonito, 104, bairro do Brás. O site da FPT é www.trucofpt.com.br, que contém a Cartilha do Truco e o Regulamento. Venha se filiar e jogar truco. Mais informações pelos fones 2692-6694/0081.

Jogo é Recreação Milenar
O truco é uma recreação milenar. A origem, segundo Milton George Thame, é desconhecida. Alguns afirmam que veio da Itália, com o baralho italiano, outros dizem que surgiu na Espanha (baralho espanhol) ou em Portugal (espadilha).
O desenvolvimento se deu no Brasil no final do século XIX, por volta de 1890, quando da vinda dos imigrantes italianos e espanhóis, que traziam o baralho de truco no bolso, como diversão. Eles desembarcaram no Porto de Santos, chegando na Hospedaria dos Imigrantes, no bairro do Brás. “Uns preferiram ficar no Brás, outros foram contratados pelos capatazes nas fazendas do interior dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, levados como mão-de-obra”, conta Thame.




A palavra truco vem do italiano trucco, que significa truque, artimanha e catimba. O jogo é caracterizado pelo grito. “É o momento do blefe. O truco é hereditário, folclórico, eletrizante, e cheio de misticismo e de manhas. O grito é uma forma do jogador de ganhar a partida. O jogo domina o sorriso, quebra o gelo, protocolos e guerras. Desmancha intrigas. Faz as pessoas inimigas se abraçarem. O truco tem o dogma de fazer amizades”, explica o presidente Thame da FPT, finalizando a entrevista.
Eduardo Cedeño Martellotta

Jornalista pós-graduado em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte pela FMU. Editor Geral, Redator e Repórter do Jornal do Brás (2004 a 2021). Coautor e Prefaciador de livros e antologias da Editora Matarazzo. Autor dos livros "Brás e seus Logradouros - origem e história", "Vamos falar de Jundiaí?", "Anos 90 Palmeirenses - Da Quebra do Tabu à Conquista da América" e "21 Contos nos Bairros de São Paulo". Trabalhou nas Rádios DaCidade AM e Terra AM. Criador e Editor do Portal E5 (2010 a 2024).

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