Brás: considerações históricas, econômicas, culturais, étnicas e geográficas sobre o bairro da Fé

Por Eduardo Cedeño Martellotta, jornalista do Jornal do Brás e editor do Portal E5 Brasil

O bairro do Brás tem suas origens no chacareiro português José Brás, que por volta de 1769 construiu a Capela Bom Jesus de Matosinhos, que deu lugar à atual Igreja Bom Jesus do Brás, localizada no Largo do Brás, bem na avenida Rangel Pestana.
Porém, a fundação oficial do Brás deu-se a 8 de junho de 1818, por meio do Decreto do Rei D. João VI, criando a “Freguesia do Brás”.
O bairro era, então, uma imensa copa verdejante, como lembra Milton George Thame, diretor-presidente do Jornal do Brás.
Com a chegada dos imigrantes portugueses, italianos, espanhóis, alemães, japoneses e outros na Hospedaria dos Imigrantes, a partir do ano de 1887, o Brás começa a se desenvolver. Parte deles teve como destino as fazendas do interior de São Paulo, e a outra as indústrias do Brás, Pari, Belém e Mooca, destacando-se as Indústrias Matarazzo. A Chácara Bresser tomava conta do bairro, em área imensa. No Brás, os imigrantes moravam em cortiços das ruas Caetano Pinto e Carneiro Leão, onde havia rixas entre espanhóis e italianos.
Foto: Eduardo Cedeño Martellotta

Na década de 1950, começam a chegar os migrantes nordestinos, que desembarcavam na Estação do Norte – atual Estação Brás da CPTM – Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (foto abaixo). Os árabes destacavam-se no comércio de roupas, vindo em seguida os coreanos e bolivianos, já na década de 1990.








As avenidas Celso Garcia e Rangel Pestana e suas adjacências sempre atraíram, no passado, muitos artistas e cantores de nível internacional que ali se apresentavam em teatros como o Colombo e em clubes como o Independência, que funcionava na Celso Garcia, acima das antigas Lojas Pirani. O Independência (que fica hoje na rua Dr Carlos Botelho, ao lado da Igreja Universal do Reino de Deus), tinha um lindo tapete vermelho. Os cinemas também eram diversos – cito aqui o Eden-Theatre (pioneiro no bairro), Cinema Popular, Piratininga, Amerikan Cinema, Brás-Bijou, Brás-Cinema, Ideal, Isis-Theatre, Pavilhão Oriente, Avenida, Eros, Salão Cinema, Savoy, São Sebastião, São José, Brás Politheama, Celso Garcia, Mafalda, Olímpia, Babilônia, Oberdã (foto acima), Roxy, Universo, Fontana e o cine do Teatro Colombo.  A Celso Garcia era mais romântica, aconteciam os “footings” (paqueras) onde de um lado, ficavam as moças, e de outro, os rapazes.
Foto: Eduardo Cedeño Martellotta


Embora o Brás tenha hoje aproximadamente 9.000 lojas, de todos os tipos – tecido, plástico, confecção, eletrônicos, móveis, madeira, borracha, etc, a religião está presente no dia a dia dos moradores e frequentadores das dezenas de igrejas existentes no bairro. A maioria dos 25.000 moradores do Brás (Censo de 2010) é católica, sendo que os imigrantes italianos veneram as imagens de São Vito Mártir e Nossa Senhora de Casaluce; portugueses e andinos (bolivianos, peruanos e paraguaios) vão à Bom Jesus e São João Batista no Brás; à Santa Rita, Santo Antônio e São Pedro no Pari. Os ortodoxos gregos têm como lugar sagrado a pequena igreja situada no meio das lojas da rua Bresser. Os árabes islâmicos preferem a Mesquita do Brás, que fica na rua Elisa Whitaker.
Foto: Eduardo Cedeño Martellotta


As igrejas evangélicas, que são maioria, têm como público os moradores de outros bairros distantes da cidade e de municípios da Grande São Paulo - ver matéria "Pesquisador mapeia Brás da Fé", de minha autoria. Eles veem nas avenidas Rangel Pestana e Celso Garcia um corredor de fácil ligação do Centro com a Zona Leste da cidade através dos ônibus. A Estação Brás do Metrô e da CPTM integra essa facilidade de locomoção. O corredor abriga essas igrejas evangélicas, e outras ainda, pentecostais, carismáticas, etc. Outro chamariz do público evangélico certamente são as lojas do bairro, que geram multidões nas ruas Oriente, Maria Marcolina, Silva Teles e Largo da Concórdia, sendo 500.000 pessoas em dias normais e 1 milhão em datas festivas, como Dia das Mães, Natal, Dia das Crianças etc.
Foto: Eduardo Cedeño Martellotta


O corredor Rangel Pestana-Celso Garcia sempre foi religioso, desde 1841, quando romarias caminhavam a pé da Sé até a Penha, mais especificamente a Igreja de Nossa Senhora da Penha. A Igreja Bom Jesus do Brás, por sua vez, era pouso obrigatório dos romeiros e viajantes que se dirigiam à Penha. Quando a cidade era acometida de secas e epidemias, a imagem de Nossa Senhora da Penha fazia paragem na Igreja Bom Jesus e depois seguia para a Sé.
Um dos locais que mais recebe público atualmente é a Igreja Universal do Reino de Deus, situada na av. Celso Garcia, 499 – a primeira existente na cidade de São Paulo, aberta no ano de 1984, cuja propriedade é do bispo Edir Macedo. Mais recentemente, com a inauguração do Templo de Salomão, também de Macedo, dia 31 de julho de 2014, uma aglomeração de pessoas tem ido ao local, nas proximidades da IURD, no número 605 da Celso Garcia.

Fotos: Eduardo Cedeño Martellotta










As pessoas vão à igreja em busca de uma solução para os seus problemas, sejam eles financeiros, de saúde ou de relacionamento. Acreditam que a imagem do santo ou a palavra do bispo ou pastor é milagrosa ou que tem poder, e a igreja como um lugar sagrado e de oração. Mas em todas elas está a palavra de Deus ou Alá, e também de Jesus Cristo, como salvador e pregador de um mundo de paz, união, fraternidade e amor.
Eduardo Cedeño Martellotta

Jornalista pós-graduado em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte pela FMU. Editor Geral, Redator e Repórter do Jornal do Brás (2004 a 2021). Coautor e Prefaciador de livros e antologias da Editora Matarazzo. Autor dos livros "Brás e seus Logradouros - origem e história", "Vamos falar de Jundiaí?", "Anos 90 Palmeirenses - Da Quebra do Tabu à Conquista da América" e "21 Contos nos Bairros de São Paulo". Trabalhou nas Rádios DaCidade AM e Terra AM. Criador e Editor do Portal E5 (2010 a 2024).

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