Nelson Gonçalves, Rei do Rádio, completaria 100 anos



Por Eduardo Martellotta

Nascido em Santana do Livramento em 21 de junho de 1919, Antônio Gonçalves Sobral (nome artístico Nelson Gonçalves), um dos maiores cantores do Brasil, estaria completando 100 anos, se estivesse vivo.
Seus pais eram portugueses e, logo após seu nascimento, transferiram-se para São Paulo, passando a residir no bairro do Brás, em uma casa alugada. Nesta época, passou a ajudar seu pai no sustento do lar, quando passou a ser levado por ele para praças e feiras, onde, enquanto seu pai tocava violino, Nelson cantava, agradando os transeuntes e ganhando gorjetas.
Aos 16 anos, tornou-se lutador de boxe na categoria de peso-médio. Dois anos mais tarde, tentou a sorte como cantor, num programa de calouros apresentado por Aurélio Campos, na Rádio Tupi de São Paulo, tendo sido reprovado duas vezes.

Mesmo com o apelido de "Metralha", por causa da gagueira, Nelson Gonçalves tomou coragem e não se deixou levar pelos preconceitos, e decidiu ser cantor, após deixar os ringues de luta. Finalmente foi admitido na rádio PRA-5, mas dispensado logo depois, passando a trabalhar como pedreiro.
Nessa época, em 1939, aos 20 anos, casou-se com sua noiva, Elvira Molla, paulistana de família de operários, descendente de italianos. Com Elvira teve um casal de filhos: Marilene Molla Gonçalves e Nelson Antônio Molla Gonçalves.
Ficou desempregado após o nascimento dos filhos, e após alguns dias procurando, começou a trabalhar como garçom no bar de seu único irmão, na avenida São João.
Nesse mesmo ano, em busca de uma vida melhor, partiu com a esposa e os filhos para o Rio de Janeiro, onde trilhou mais uma vez o caminho dos programas de calouros, se apresentando em diversas emissoras. Foi reprovado novamente na maioria deles, inclusive no de Ary Barroso, que o aconselhou a desistir, e, mesmo muito desolado, não desistiria fácil do seu sonho de ser cantor. Nelson voltou a trabalhar como garçom em bares do Rio para sustentar a casa. Para ajudar nas despesas da família, que vivia no subúrbio carioca, sua esposa começou a trabalhar em casa como costureira.

Crooner e ídolo no rádio
Em 1941, nas horas vagas, começou a cantar por conta própria em bares, conseguindo gorjetas. Voltou a tentar se apresentar em programas de calouro, sendo enfim aprovado. Foi chamado para gravar um disco de 78 rotações, que foi bem recebido pelo público. Passou a crooner do Cassino Copacabana (do Hotel Copacabana Palace) e assinou contrato com a Rádio Mayrink Veiga, iniciando uma carreira de ídolo do rádio nas décadas de 40 e 50, da escola dos grandes, discípulo de Orlando Silva e Francisco Alves.
Em 1952, Nelson casou-se com Lourdinha Bittencourt, substituta de Dalva de Oliveira no Trio de Ouro. O casamento durou até 1959.
Após relacionamentos sem compromisso, em 1962 Nelson conheceu a empregada doméstica Maria Luiza da Silva Ramos, durante seu show. Ela era sua fã e foi pedir-lhe um autógrafo no camarim. Logo, ambos começaram a namorar. Após um ano de namoro, noivaram e em 1965 casaram-se. O casal teve dois filhos: Ricardo da Silva Gonçalves e Maria das Graças da Silva Gonçalves. Em homenagem à filha, sua caçula tem seu apelido no refrão da música Até 2001. (É no gogo gugu).

O problema com drogas
Em pouco mais de três anos, o casamento passou por grandes tribulações, quando Nelson entrou em depressão, tentando o suicídio e pensando em desistir da carreira. Ele tornou-se alcoólatra e usuário de cocaína, tendo tido uma overdose que quase o matou em 1968. Usando drogas por mais de vinte anos, sua esposa se manteve ao seu lado até seu fim, e sempre lutou contra o vício de Nelson, que, apesar disso, foi preso em flagrante em 1975, por porte de drogas, e passou um mês na Casa de Detenção, o que lhe trouxe problemas pessoais e profissionais. Por todo esse tempo sua esposa o visitou no presídio, e juntava economias dela e do marido, que pagavam seu tratamento e seu advogado. Após sair da cadeia, Nelson iniciou tratamento psicoterápico e psiquiátrico, fazendo tratamento de desintoxicação, diminuindo aos poucos o uso de drogas. Voltou a cantar, e lançou o disco “A Volta do Boêmio nº 1”, um grande sucesso.
Nelson Gonçalves, também conhecido como "Rei do Rádio" e "O Boêmio", foi o segundo maior vendedor de discos da história do Brasil, com mais de 81 milhões de cópias vendidas, ficando apenas atrás de Roberto Carlos, com mais de 120 milhões. Faleceu aos 78 anos, no dia 18 de abril de 1998, no Rio de Janeiro.

Os maiores Sucessos
“Renúncia” (1942)
"Quando É Noite de Lua" (1946)
"Menina dos Olhos" (1946)
"Normalista" (1949)
"Meu Vício É Você" (1953)
"Meu Vício É Você" (1956)
"A Volta do Boêmio" (1957)
"Deusa do Asfalto" (1959)
"Negue" (1961)
"Fica Comigo Esta Noite" (1961)
"Naquela Mesa" (1974)



Correios lançam 

Selo Comemorativo

Em solenidade oficial dos Correios, no próprio dia 21 de junho, no Bar do Nelson, foi lançado o Selo Comemorativo do Centenário de Nelson Gonçalves, com a presença da filha de Nelson, Lilian Gonçalves, proprietária da Rede Biroska, representantes dos Correios, imprensa, autoridades, artistas e amigos do eterno Rei do Rádio.
O selo já está disponível nas agências dos Correios de todo o Brasil.








Eduardo Cedeño Martellotta

Jornalista pós-graduado em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte pela FMU. Editor Geral, Redator e Repórter do Jornal do Brás (2004 a 2021). Coautor e Prefaciador de livros e antologias da Editora Matarazzo. Autor dos livros "Brás e seus Logradouros - origem e história", "Vamos falar de Jundiaí?", "Anos 90 Palmeirenses - Da Quebra do Tabu à Conquista da América" e "21 Contos nos Bairros de São Paulo". Trabalhou nas Rádios DaCidade AM e Terra AM. Criador e Editor do Portal E5 (2010 a 2024).

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