Especialista explica como as redes agem no nosso
cérebro
De acordo com a pesquisa Global Digital Overview,
realizada em 2020 pelo site We Are Social, em parceria com a ferramenta
Hootsuit, 66% dos brasileiros estão conectados às redes sociais e são eles que
fazem o Brasil ocupar o terceiro lugar no ranking de populações que passam mais
tempo nas redes, com uma média diária de 3 horas e 31 minutos.
Aproveitando que entramos no Setembro Amarelo,
campanha dedicada à conscientização sobre a saúde mental e, sobretudo, à
valorização da vida e prevenção ao suicídio, vale alertar que, para a psicóloga
da Clínica Maia, Katherine de Paula Machado, o uso das redes sociais afeta de
muitas maneiras o bem-estar emocional das pessoas, principalmente para quem
possui dependência em internet. "As redes foram construídas para atuar
diretamente em circuitos neurais relacionados às sensações de prazer e
satisfação. Esse sistema é evolutivamente antigo e sua função está associada à
preservação da espécie, pois provoca a repetição de comportamentos necessários
para a sobrevivência (como dormir, se alimentar, entre outros)", explica a
especialista.
Assim, ao receber uma curtida, o cérebro registra
que isso é algo prazeroso e deve ser repetido, o que é muito parecido com a
ação do uso de drogas ou jogos de azar. E o problema está justamente nessa
necessidade de repetir o comportamento, porque faz com que a pessoa passe cada
vez mais tempo online, se afastando gradativamente da realidade. "Dessa
forma, a vida começa a se tornar insatisfatória; não são mais percebidas as
conquistas importantes do dia a dia em comparação às realizações observadas nas
redes sociais, o que acaba afetando a autoestima", ressalta Katherine.
Um ponto importante a se destacar é que essas
plataformas comprometem a perspectiva do que é real, um exemplo claro são os
filtros, que proporcionam a ilusão de um padrão estético inexistente.
Nas redes, as postagens buscam perfeição: o dia está sempre lindo, o céu muito
azul, a comida sempre deliciosa; não há manchas na pele, as pessoas estão
constantemente felizes, frequentando lugares elegantes e rodeadas de amigos.
Em médio e longo prazo, a utilização das redes
sociais acaba por desencadear pensamento obsessivo e comportamento compulsivo
direcionado ao uso, assim como alteração de humor, sentimento de desvalia
(desvalorização) e até síndrome de abstinência. A pessoa começa a abandonar
progressivamente os prazeres alternativos em favor dos momentos online, e
persiste nessa navegação excessiva mesmo observando prejuízos no trabalho, nas
relações sociais, alteração no padrão do sono, entre muitos outros fatores.
"Quanto mais se utiliza as redes, menos se
presta atenção às experiências reais, e esse excesso cobra um preço alto. A
negligência da vida real pode trazer danos também para quem não possui a
dependência", alerta a psicóloga.
Segundo a profissional, é fundamental monitorar o
tempo que se gasta online, assim como é essencial entender quais são os perfis
que mais chamam a atenção e o porquê. Também é interessante seguir páginas
variadas, que se assemelham mais à realidade de vida de cada um, e vale, ainda,
atentar-se aos momentos em que se está fazendo uso dessas redes e as
consequências negativas dessa utilização intensa.
"Se a pessoa está frequentemente nas redes
sociais durante o trabalho, no encontro com os amigos, em reuniões familiares,
o uso pode prejudicar as vivências escolhidas, distanciando-a da realidade.
Quando o virtual se torna mais importante que o real, à medida que deixamos de
fazer coisas no mundo ‘físico’ para ficar acompanhando freneticamente stories,
curtindo fotos ou mesmo conversando online, é hora de acender o alerta e, quem
sabe, fazer uma pausa para entender qual espaço as redes ocupam na nossa
vida", conclui a especialista.
FONTE: TIME COMUNICAÇÃO