Antes
do início da aula, para uma turma de Engenharia, muitos alunos me questionaram
sobre o leilão da Tecnologia 5G no
Brasil, realizado, às vésperas, pelo Governo Federal. Qual seria a importância
dessa tecnologia nas vidas dos brasileiros? Aproveitando a oportunidade para
comentar alguns conteúdos do curso, através de um bate-papo descontraído e
informal, topei o desafio.
Começamos
com a Internet e sua óbvia e indiscutível importância atualmente, muitos a
considerando como a maior invenção de todos os tempos. Comentamos sobre a
criação, na década de 1980, do chamado Protocolo de Internet, ou Internet
Protocol - IP, e sua versão mais atual, a IPv6, que veio
substituir a IPV4 em 2012, ampliando o número de combinações
de endereços para a casa dos 340 undecilhões (340 x1036) de dispositivos que
podem ser conectados simultaneamente na Internet.
Falando
de conexões, começamos com a Internet Fixa, que saiu da lenta e ultrapassada
Internet discada, compartilhando as linhas telefônicas e alcançando taxas de
transferência de dados de 56Kbps, passou pela Banda Larga com cabeamento
metálico próprio e chegou até a Banda Larga com fibras ópticas, que alcançam
facilmente os 600Mbps atualmente, 10000 vezes mais rápida que a
"dinossáurica" discada.
Partimos,
então, para a Internet Móvel, com a transmissão via ondas de rádio, evoluindo
juntamente com o telefone celular. Começou, discretamente, na 2ª geração da
telefonia móvel, ou 2G, já que na 1ª geração, analógica, só havia a conversação
por voz. Com pífio desempenho, alcançava taxas de transferência de dados de até
64Kbps. Foi na 3G, com taxas de até 2Mbps, que a Internet Móvel se viabilizou
como a conhecemos, ainda que modestamente. Daí, com a 4G, com taxas até 100Mbps
em movimento e 1Gbps em baixa mobilidade, pudemos desfrutar o que de melhor a
Internet Móvel poderia nos oferecer.
Será?!
-
Mas, Professor, e o 5G? - questiona um aluno.
-
Calma - respondi -, ainda temos mais protagonistas nessa história.
A
Internet das Coisas, ou Internet of Things - IoT, responsável por
conectar à rede inúmeros dispositivos, ditos "inteligentes", de uso
cotidiano. De lâmpadas a veículos, cada um utilizando um endereço de IP.
E este foi um dos principais motivos para o lançamento da versão IPv6,
lembra dela?
E,
num salto, veio a Internet de Todas as Coisas, ou Internet of
Everything - IoE, onde, além dos dispositivos de IoT, se
conectam pessoas, processos e dados, a Computação em Nuvem, ou Cloud
Computing - CC, com algoritmos de Inteligência Artificial, ou Artificial
Intelligence - AI, e de Aprendizado de Máquina, ou Machine Learning
- ML, permitindo, por exemplo, a existência das Cidades Inteligentes,
ou Smart Cities .
Por
fim, outro conceito importante: a latência, ou ping, definindo o
tempo que uma requisição leva para ser concluída pela rede, ou seja, para um
pacote de dados ir de um ponto ao outro. Segundo o relatório de desempenho da
Internet brasileira no 2º semestre de 2021, gerado pelo SpeedTest, portal
especializado em testes de velocidade e desempenho das conexões na rede, as
latências médias mais baixas nesse período foram 13ms para a Fixa e 35ms para a
Móvel.
•
Agora, sim, podemos ir para o 5G! -
informei.
Segundo
os editais do leilão, o 5G iniciará
suas operações nas Terras Tupiniquins em meados de 2022, começando pelas
capitais brasileiras. Sua tecnologia móvel será a NR - New Radio,
permitindo conexões com latências entre 5ms e 20ms, podendo no futuro chegar à
1ms. As taxas de transferência de dados deverão ficar entre 10Gbps e 15Gbps, 10
vezes mais rápidas que a máxima do 4G atual. Por si só, esses números já
demonstram o poder do 5G. Porém, o
mais interessante está por vir. Parafraseando Steve Jobs, com o seu "One
more thing…", digo:
-
Mais uma coisa… se juntarmos tudo isso, o que poderemos ter?
Respondo
que o 5G causará impactos gigantescos em
todas as áreas: saúde, transporte, educação, entretenimento, manufatura, energia,
agricultura, varejo, finanças, esportes eletrônicos e por aí vai.
Algumas delas para exemplificar:
Na
Saúde: equipamentos móveis, monitorando pacientes e
enviando seus dados aos médicos o tempo todo; sistemas inteligentes de exames
laboratoriais e imagens, gerando enormes quantidades de dados remotamente e
processando diagnósticos através da Computação em Nuvem e Inteligência
Artificial; cirurgias robóticas, controladas à distância, processando dados de
sensores e atuadores, exigindo desempenho, precisão e reações em tempo real.
Saúde:
HoloLens2, da Microsoft (Foto: Divulgação/Microsoft)
No Transporte: veículos privados e públicos, conectados em
tempo real com as Cidades Inteligentes e suas múltiplas infraestruturas; ruas,
avenidas e estradas inteligentes, melhorando a segurança, fluidez e eficiência
dos transportes e usuários; veículos autônomos mais rápidos, confiáveis e
seguros, trocando grandes quantidades de informações e executando suas missões,
em tempo real, em seus ecossistemas.
Veículos Autônomos em Cidades Inteligentes, da Siemens (Foto: Divulgação/Siemens)
Na Educação: dispositivos móveis, utilizando as Realidades
Virtual, Aumentada, Mista e Estendida, ou Virtual, Augmented, Mixed and Extended Realities - VR, AR, MR and XR, transformando o modo como as pessoas aprendem; professores desenvolvendo
novas técnicas educacionais baseadas em tecnologia; estudantes realizando
viagens virtuais a museus, pontos históricos, laboratórios, sistemas solares
etc.
Educação: HoloLens2, da Microsoft (Foto: Divulgação/Microsoft)
Na Agropecuária: excelência nos processos agrícolas, com
monitoramento individual e remoto; sistemas de irrigação, fertilização,
controle de pragas, segurança e saúde das criações, monitoramento de culturas,
controle da cadeia de abastecimento, geração e armazenamento dos produtos etc.
manipulando grandes quantidades de dados, com rapidez e eficiência; integrando
zonas rurais amplas e distantes.
Agricultura
Digital, do Canal Agro/Shutterstock (Foto: Divulgação/Shutterstock)
E
isso é só para começar. Com isto, restava encerrar aquele
"bate-papo", devolvendo aos alunos a pergunta:
-
Afinal, por que a tecnologia 5G é
tão importante?
Escrito
por: Robson Calvetti - Engenheiro Eletrônico, Especialista em Engenharia de
Software, Mestre em Engenharia Eletrônica e Computação e Professor dos cursos
de Engenharia e Tecnologia da Informação da Universidade São Judas Tadeu.
Fonte: Máquina CW